25 setembro 2010

Ele Ela

Ela esta sentada na mesa da cozinha fumando um cigarro quando ele entra. Seu casaco está parcialmente molhado devido aos chuviscos que caem desde a noite anterior. O frio tinha pegado todos desprevenidos e agora ela usava três casacos gigantescos e um cachecol velho que sua avó tinha costurado quando ela ainda era uma criança.

Ele olha para intrigado. Era uma hora meio incomum para ela estar na casa dele. Deveria estar no trabalho. Ele pergunta para ela o que ela faz ali. Ela levanta e coloca a xícara de café na pia. Não responde. Ele insiste. Ela diz que matou o trabalho e pergunta se ele quer um pouco de café. Acabou de ser feito. Ele diz que sim.

Ela o observa tomar o café. Repara que ele está nervoso e que queimou a língua ao esquecer-se de assoprar. Ela reprime um sorriso.

Ele continua a pensar no que ela faz ali. Esta confuso e o que realmente quer perguntar lhe causa arrepios. Segura a pergunta mais um pouco, ele sabe que com ela não se pode ser direto. Tem que persuadi-la.

Ela volta a sentar-se à mesa, acende o cigarro e enche outra xícara com café. Um mal habito que ele não lhe diz. Ele a observa e não pode deixar de pensar o quanto ela é adorável. Tudo nela lhe causa uma sensação boa e tudo o que ele quer é passar o resto da vida com ela. Mas ainda assim é assustador.

“O que você faz aqui?” ele pergunta sussurrando.

Ela não responde. Ao invés, fica vermelha e ele não pode conter um sorriso.

Ela termina o cigarro e logo em seguida acende o outro. Ele percebe que ela está tremendo, pois o cigarro balança enquanto esta nos seus dedos finos.

Eu gosto de você. Ela diz de repente e ele se vê ficando envergonhado. Ela continua. Diz que já faz um tempo, mas que era muito tímida pra dizer e que não sabia qual seria sua reação. Ela também diz que está indo embora e que achou melhor deixar as coisas claras, uma vez que não sabia se voltaria para lá de novo. Ele não fala nada então ela continua.

Diz que se sente assim por um tempo, mas que realmente não conseguia saber o quanto era verdadeiro, e que só soube no dia que o viu pedindo a mulher em casamento. Ela diz que jamais imaginou como seria ter o coração despedaçado, mas que naquele dia soube, e que doeu tanto como se tivesse a carne dilacerada lentamente.

Ele ficou sem palavras. Uma raiva súbita tomou conta de seu ser. Ele a amava, mas agora era impossível. Ele tentou, durante anos, reprimir aqueles sentimentos, fingir que eles não existiam e, agora, ela dizia tudo aquilo que ele queria ter dita tanto tempo atrás. Não sabia o que fazer.

Ela terminou o cigarro e o café. Levantou-se para lavar a xícara e limpar as cinzas. Pegou sua bolsa e se aproximou dele. Lentamente ela se inclinou e encostou seus lábios nos dele. Um beijo superficial, só para suprimir uma necessidade há muito tempo alimentada.

Ela sorriu tristemente e se despediu.

Nunca mais ele a viu, mas o sentimento jamais desapareceu, mesmo ele pensando que algo assim seria esquecido em uma memória qualquer, de uma juventude que poderia ser de alguém que ele conheceu. Foi embora, pois não poderia ser vivido, mas ele sabia que continuava ali. Nas suas memórias.

2 comentários:

Querido leitor, ao comentar qualquer texto aqui, voce estará incentivando - ou não - essa futura escritora a escrever mais, por tanto faça seu comentário. Mas senão gostar não se de a trabalho de ler, e se não ler não se de o trabalho de comentar.
Beijones.